Matrix Resurrections – Uma crítica atual
Matrix Resurrections, filme mais recente da visionária Lana Wachowski estreou já dividindo opiniões. Acompanhe abaixo, nosso review SEM SPOILERS do filme.
Enredo de Matrix Resurrections
Finalmente chegou o grande dia de conferir a sequencia da saga Matrix nos cinemas. The Matrix, filme lançado em 1999, foi um divisor no cinema tanto pela narrativa, quando pelos efeitos visuais e suas abordagens filosóficas sobre escolhas e destinos pré-concebidos. E em suas duas sequencias, mesmo com a época não diferente, apesar de terem sido mal recebidos pela maior parte das criticas comparado ao primeiro.
Na saga temos um mundo onde as maquinas venceram os humanos e os usam através do mundo virtual como forte de energias, e ao longo da década se enraizou tanto na cultura pop que acho difícil algum nunca ter ouvido falar, ou conhecer referencias a saga, como seguir o coelho branco, escolher tomar entre as pílulas azul e vermelha, etc….
E como é muito difícil falar do novo filme sem entregar spoiler, vou me ater a sinopse oficial que a Warner liberou a alguns meses:
“Em um mundo de duas realidades – a vida cotidiana e o que está por trás dela – Thomas Anderson terá que escolher seguir o coelho branco mais uma vez. A escolha, embora seja uma ilusão, ainda é a única maneira de entrar ou sair da Matrix, que é mais forte, mais segura e mais perigosa do que nunca.”
Considerações
Matrix Resurrections com certeza, irá dividir muito o publico. Pelo que já vi, vai ser ame ou odeie. As diretoras da saga original Lana Wachowski e Lilly Wachowski, que na época ainda se denominavam com seus nomes masculinos de nascimento e não pelos reais, sempre se negaram a explicar a saga e sempre foram fiéis a isso. Realmente, eu só fui entender anos mais tarde, como quando assumiram seus verdadeiros “eus” para o mundo, e hoje todos sabemos que a saga era em partes uma grande metáfora Trans, era uma ficção pós-apocalíptica com um teor muito pessoal de seus criadores. O que me faz pensar, no quanto realmente após um artista entregar seu trabalho ele deixa de ser seu e passar a ser do público, pois a saga erroneamente foi usada pela politica extrema-direita norte-americana como símbolo do conservadorismo, coisa que obviamente as irmãs e a saga não representam.
O filme de 1999 se tornou tão adorado e as sequências que alguns anos depois estrearam com 6 meses de diferença, não foram muito aceitas pelos fãs, que criaram na sua mente o que deveria ser Matrix. Ou seja, é como se as irmãs mostrassem o “real”, mas o publico tinha tomando a pílula azul na verdade, e não aceitando a “realidade” ou apenas agindo como o personagem Cypher, preferindo a doce ilusão que a Matrix poderia lhe proporcionar.
Esse novo capitulo abraça a metalinguagem e abraça o passado da saga como um todo, trazendo pontualmente flashbacks da saga anterior, ao mesmo tempo cria uma rima visual de começo e fim com o primeiro filme. Se for esperando somente lutas e ação, lamento! O mundo mudou muito… Hoje passamos muito tempo conectados, e cada vez mais rápido. Antes tínhamos o meme do mês, depois da semana, depois do dia e agora se piscar, perdemos. Como fazer um filme com esse estilo pra essa nova geração? A certa altura de Matrix Resurrections um personagem diz que as pessoas que antes estavam presas ali por escolha, agora queriam ter aquela vida medíocre e infeliz de volta, e queriam o mesmo pros personagens da trama, com as historias sempre sendo recontadas da mesma forma, só mudando os nomes do personagens.
É uma grande crítica a cultura pop e a industrial atual, e o roteiro tem consciência disso, que ele faz parte e está preso ao sistema.
Vale a pena assistir Matrix Resurrections?
Tecnicamente, Matrix Ressurections é impecável! Efeitos sonoros, trilha sonora, mixagem de some efeitos visuais. Mas, talvez o que mais incomode, seja a falta das lutas como nos anteriores. Elas existem, mas a câmera se mantém nos personagens e tremidas. A lógica que senti nisso, foi que o que mais importava aqui, era quebrar a expectativa e centrar na historia, não dando o que as pessoas que subverteram a simbologia real da saga queriam, e ainda assim, você pode não gostar dessa parte. A diretora (Nessa capitulo é só a Lana que assina a direção) nunca perde o ritmo ou a logística da cena, o mise-en-scène é perfeito.
Uma semana antes de Matrix Resurrections, tive a oportunidade de ver no cinema o filme de 99. Lembrei de uma frase de um dos maiores críticos de cinema teve Roger Ebert: “Quando vejo um filme pela primeira vez, o filme representava tudo o que eu esperava alcançar. Dez anos depois, representava uma versão da armadilha em que me envolvera. Outros dez anos mais tarde, ele já representava o mundo do qual eu escapara.”
The Matrix (1999) mudou e moldou minha percepção sobre o mundo, através do filme me interessei por filosofia e politica. Revendo 20 anos depois, após viver e obter mais conhecimento, vi uma historia de amor, a qual tachada de “piegas” por muitos na conclusão da trilogia, e aqui ela estava mais óbvia e gritante que nunca, talvez porque o jovem Andrei ficou tão fascinado pelo kung fu, bullet-time, e conceitos que não tinha visto até então, e que hoje dou mais valor. E foi por isso que amei o que Matrix Ressurections representa. Esperança, muito bem vinda nessa era de trevas que vivemos…
Nota do Redator – 4,0/5,0