Mulan (2020) – A Ideia era boa, mas não deu…
A plataforma de streaming Disney+, ainda não lançada no Brasil, pegou todo mundo de surpresa essa semana com o lançamento da live action de ‘’Mulan’’, animação feita em 1998. O filme ganhou uma pontuação de 79% no site aclamado de críticas ‘’Rotten Tomatoes’’. Acompanhe nosso review sem spoilers do filme.
Mais focado na lenda chinesa, Hua Mulan (Liu Yifei) é uma jovem chinesa destemida, filha mais velha de um honrado guerreiro. Quando o Imperador da China emite um decreto ordenando que um homem de cada família deve servir no exército imperial, Mulan decide tomar o lugar de seu pai, que está incapacitado. Assumindo a identidade de Hua Jun, ela se disfarça de homem para combater os invasores que estão atacando sua nação.
Na época de divulgação do filme a Disney gerou diversas polêmicas, primeiramente que o filme dirigido por Niki Caro não é um musical, mesmo ainda tendo algumas músicas conhecidas na forma instrumental. Mas, o que mais causou alvoroço foi o fato do filme não ter alguns dos queridos personagens, como o dragão Mushu. Quando perguntado, o produtor Jason Reed explicou que, para os chineses, o dragão é um símbolo de respeito, força e poder e usá-lo como alivio cômico desagradou o público tradicional chinês na época de exibição da animação.
Outro personagem que ficou de fora, foi o líder do exército e par romântico de Mulan, Li Shang. A justificativa do produtor em um entrevista ao Collider foi de que a ausência de Shang se relaciona a um movimento que denuncia casos de assédio sexual:
‘’Nós dividimos Li Shang em dois personagens. Um deles se tornou Comandante Tung (Donnie Yen), que serve como mentor de Mulan ao longo do filme. O outro é Honghui (Yoson An), que é um soldado equivalente a ela, sem nenhum tipo de hierarquia. Acho que dentro do momento que vivemos, especialmente com a chegada do movimento #MeToo, seria muito desconfortável ter um interesse amoroso como Li Shang. Não seria apropriado.’’
Sinceramente, usar como justificativa um movimento tão sério como esse para falar do Shang não faz sentido nenhum. Assistindo a animação é perceptível que não há um relacionamento abusivo entre os dois, sendo que o personagem apenas têm o pulso firme com Mulan enquanto HOMEM, pois a tratava como igual aos outros guerreiros, todos subordinados a ele, sem saber que ela era uma mulher. O que esperavam de um líder do exército? Que fosse calmo com todo mundo enquanto a China estava em perigo e eles brincavam de ser soldados? (Vamos lembrar todas que o Mushu aprontou, fazendo a Mulan parecer incompetente e louca). E também há o fato de que eles só ficam realmente juntos no final da história, já com Mulan fora do exército e com tudo esclarecido.
Visualmente falando a nova obra é ótima, cheia de paisagens do velho mundo e elementos místicos, tiveram total respeito com a cultura chinesa e fez homenagens aos filmes do país, o que é perceptível nas cenas de luta. Mas, deixa muito a desejar em outros aspectos.
A história ficou sem profundidade e com um roteiro tão cheio de furos que não consigo acreditar que isso passou por mãos de especialistas e, mesmo assim, foi aprovado. Falta emoção! Algumas singelas partes que a têm é mais pelo fato da atuação dos atores, que no caso mandaram bem, do que pela história em si. Os personagens novos são rasos e sem desenvolvimento, a única que teve um pouco mais de destaque, além da protagonista Mulan, é uma nova vilã, a feiticeira Xian Lang, que faz referência à icônica ave de rapina do huno Shan Yu (50x mais assustador que os tais rourans de agora, vale dizer).
Mulan tem super poderes?
O Filme traz mais uma coisa nova: O conceito do ‘’Chi’’. Explicando do modo mais simples possível, é como se fosse a força de um Jedi. É uma energia difícil, quase impossível de se descrever e que se diferencia de uma força física da natureza. Houveram diversas críticas sobre isso e uma delas é de que deixar a Mulan com o Chi extremamente forte, apaga o que na animação era substituído pela inteligência e determinação da personagem construídas ao longo da trama. Para melhores explicações sobre esta habilidade, clique aqui e veja nossa matéria sobre o Wu Xia, um gênero literário que usa o Chi como base de seus contos.
Enfim, tinha tudo pra dar certo e ser esplêndido, mas apelaram muito pra adicionar coisas extras e no fim não souberam trabalha-las corretamente, resultando em roteiro fraco e mau desenvolvimento de personagem. Não é nem de longe a melhor live action feita pela empresa até então, ficando muito atrás de Aladdin, por exemplo, minha favorita, que foi muito bom, original, emocionante, com ótimas atuações e efeitos especiais bem feitos. É realmente decepcionante, pois sendo a Disney, com certeza seriam capazes de apresentar uma grande obra.
Espero que tenham gostado do review! Deixem aí seus comentários para debatermos sobre a obra.
Boa análise. Faltou porém citar o boicote sofrido pelo fato da atriz principal apoiar violência policial contra os manifestantes de Hong Kong e também que algumas locações foram em áreas campos de concentração de muçulmanos na China.